Espaço sobre tudo e mais alguma coisa, que isto de ter cantinhos muito específicozinhos sobre coisinhas pode ser, vá, esquisito
Visitas
segunda-feira, fevereiro 27, 2012
sábado, fevereiro 25, 2012
Da teoria à prática
Não consegui cumprir com o que tinha pensado. Ontem, na hora de ir para a cama, o Rodrigo enroscou-se no meu colo enquanto o levava para o quarto e não consegui estragar-lhe o prazer do mimo. Arrependi-me logo, pois ao fim de quarenta minutos de embalo ele ainda andava de olhos abertos e eu já aflita das minhas costas e dos braços e de tudo. Para além de que às tantas o meu repertório de músicas de embalar começa a dar de si. Adormeceu ao fim de uma hora e quinze minutos.
Hoje ainda o pus na cama dele, mas ficou lá segundos, levantou-se nas grades e levantou os braços a chorar a pedir-me colo e eu não consegui virar costas. Mas vá lá, como hoje não fez sesta, adormeceu em cinco minutos. (Tããããõ boooom).
Isto não está a correr nada bem. Tenho de ler muita coisa antes e mentalizar-me, mas mentalizar-me mesmo, porque sinto que ainda estou muito longe de ter força emocional para o deixar lá naquele choro seguido. Epá, mas tem de ser.
Hoje ainda o pus na cama dele, mas ficou lá segundos, levantou-se nas grades e levantou os braços a chorar a pedir-me colo e eu não consegui virar costas. Mas vá lá, como hoje não fez sesta, adormeceu em cinco minutos. (Tããããõ boooom).
Isto não está a correr nada bem. Tenho de ler muita coisa antes e mentalizar-me, mas mentalizar-me mesmo, porque sinto que ainda estou muito longe de ter força emocional para o deixar lá naquele choro seguido. Epá, mas tem de ser.
quinta-feira, fevereiro 23, 2012
Férias
Antes de avançar, dizer que truque da máscara por baixo do casaco resultou. Não houve birras e na creche não refilou. Teve um dia fantástico e até a bandolete com antenas me deixou pôr. Estes putos surpreendem-nos.
Bom, entretanto tenho estado esta semana de férias. E que bem me têm sabido. Zé ficou todo chocado quando no domingo à noite, no sofá, suspirei de contente: "ai vão-me saber tão bem estes dias sem filho e sem marido". Levou a mal. Mas é verdade, também preciso de tempo para mim, com o comando na mão, refeições à minha hora e sem programas familiares definidos. E claro, tudo isto sabe assim tão bem porque sei que ao final do dia tenho outra vez marido e filho. Aliás, a minha parte preferida do dia é mesmo a de ir buscar o Rodrigo á creche. Não tem nada a ver com ir pôr. Vou sempre sorrateiramente para conseguir espreitá-lo a brincar e não há a correria da manhã. Uma delícia. Pelo meio, muitas passeatas, umas sestas, uns valentes almoços à beira-mar na companhia das melhores amigas e papeladas em atraso tratadas. Pena que já estejam a chegar ao fim.
Escrevo isto depois de ter estado uma hora a embalar o Rodrigo. agora está lá o Zé, mas sinto que ainda vou ter de lá ir acabar o serviço. As minhas costas é que já não querem nada com o meu filho e acho que acabei de tomar uma decisão. Amanhã darei início à saga de tentar com que ele adormeça sozinho na cama. Tem mesmo de ser, que a minha coluna está a dar as últimas e ainda tenho mais filhos para pôr neste mundo. Agora só falta "conferenciar" com o Zé, para ver o que ele acha (ah ah).
Bom, entretanto tenho estado esta semana de férias. E que bem me têm sabido. Zé ficou todo chocado quando no domingo à noite, no sofá, suspirei de contente: "ai vão-me saber tão bem estes dias sem filho e sem marido". Levou a mal. Mas é verdade, também preciso de tempo para mim, com o comando na mão, refeições à minha hora e sem programas familiares definidos. E claro, tudo isto sabe assim tão bem porque sei que ao final do dia tenho outra vez marido e filho. Aliás, a minha parte preferida do dia é mesmo a de ir buscar o Rodrigo á creche. Não tem nada a ver com ir pôr. Vou sempre sorrateiramente para conseguir espreitá-lo a brincar e não há a correria da manhã. Uma delícia. Pelo meio, muitas passeatas, umas sestas, uns valentes almoços à beira-mar na companhia das melhores amigas e papeladas em atraso tratadas. Pena que já estejam a chegar ao fim.
Escrevo isto depois de ter estado uma hora a embalar o Rodrigo. agora está lá o Zé, mas sinto que ainda vou ter de lá ir acabar o serviço. As minhas costas é que já não querem nada com o meu filho e acho que acabei de tomar uma decisão. Amanhã darei início à saga de tentar com que ele adormeça sozinho na cama. Tem mesmo de ser, que a minha coluna está a dar as últimas e ainda tenho mais filhos para pôr neste mundo. Agora só falta "conferenciar" com o Zé, para ver o que ele acha (ah ah).
quinta-feira, fevereiro 16, 2012
O meu plano carnavalesco
Amanhã o Rodrigo "tem" de ir mascarado. Problema: Das duas vezes que lhe vesti a fatiota verde de grilo, gafanhoto, palhacinho ou o que quer que aquilo seja que foi baratinho e não é obrigado a mais, chorou e quis tirar a parte de cima. Com as calças tudo tranquilo, com a jaqueta é que a coisa azeda, tudo por causa de três pequenos e inocentes pom pons coloridos que tem na aba da casaquinha. Enfim, ele lá saberá o que o aborrece.
De modos que estou assim a meios que ansiosa e como sou muito enrgética estou mesmo a ver que amanhã pela manhã, mal o acorde, o pirralho vai sentir que algo estará para acontecer. Vou tentar mudar a fralda da manhã a assobiar, para disfarçar.
Eu e o Zé estivemos a conferenciar (que é o mesmo que dizer que cheguei ao pé dele como uma solução e ele disse que sim, que achava bem, como diria também caso eu estivesse a propor a coisa mais absurda) e então vou fazer o seguinte. A parte de cima da roupa é sempre vestida com ele ainda sentado na cadeira do pequeno-almoço, então (ai que nervos), vou vestir-lhe a jaqueta e o casaco de ir para a rua ao mesmo tempo. Ele não vai ver o raio da casaca, porque vai estar enfiada por dentro do casaco. Só vai ver a linda figurinha em que vai, sem perceber patavinas por quê, quando estiver na escolinha. E pronto! ~
(silêncio)
Ok, eu sei que não é brilhante, mas todas nós temos os nossos momentos de más mães. Este provavelmente é um desses, mas eu quero que o Rodrigo vá para a escola mascarado como os outros meninos e sem estar a chorar. Se na creche, quando lhe tirar o casaco, vir que ele está zangado, muito bem (já teve os seus cinco minutos de folia carnavalesca) tiro-lhe a casaca e visto-o normalmente, que vou apetrechada com uma muda para esse efeito.
A ver vamos. Todo este plano está mal é para a foto, mas no meu íntimo há a esperança de que ele não embirre com a máscara e que se mantenha com ela vestida até eu voltar para casa do trabalho. "Sonhador, sonhador, mas ao menos a sonhaaaar... lá rá lá"
De modos que estou assim a meios que ansiosa e como sou muito enrgética estou mesmo a ver que amanhã pela manhã, mal o acorde, o pirralho vai sentir que algo estará para acontecer. Vou tentar mudar a fralda da manhã a assobiar, para disfarçar.
Eu e o Zé estivemos a conferenciar (que é o mesmo que dizer que cheguei ao pé dele como uma solução e ele disse que sim, que achava bem, como diria também caso eu estivesse a propor a coisa mais absurda) e então vou fazer o seguinte. A parte de cima da roupa é sempre vestida com ele ainda sentado na cadeira do pequeno-almoço, então (ai que nervos), vou vestir-lhe a jaqueta e o casaco de ir para a rua ao mesmo tempo. Ele não vai ver o raio da casaca, porque vai estar enfiada por dentro do casaco. Só vai ver a linda figurinha em que vai, sem perceber patavinas por quê, quando estiver na escolinha. E pronto! ~
(silêncio)
Ok, eu sei que não é brilhante, mas todas nós temos os nossos momentos de más mães. Este provavelmente é um desses, mas eu quero que o Rodrigo vá para a escola mascarado como os outros meninos e sem estar a chorar. Se na creche, quando lhe tirar o casaco, vir que ele está zangado, muito bem (já teve os seus cinco minutos de folia carnavalesca) tiro-lhe a casaca e visto-o normalmente, que vou apetrechada com uma muda para esse efeito.
A ver vamos. Todo este plano está mal é para a foto, mas no meu íntimo há a esperança de que ele não embirre com a máscara e que se mantenha com ela vestida até eu voltar para casa do trabalho. "Sonhador, sonhador, mas ao menos a sonhaaaar... lá rá lá"
quinta-feira, fevereiro 09, 2012
Cadê esta menina?

Como já referi aqui algumas vezes tenho um problema com a cebola. Não posso senti-la, o que é um drama tendo em conta que qualquer coisinha que se faça fica bem com "um refogadinho". A solução que encontrei há muitos anos para não ter de andar sempre a passar cebola é fazer quase tudo com sopa de tomate instantânea. Carnes à bolonhesa, frango com massa, chili, arroz de tomate... tudo é feito com a bela sopa. Junto um pouco de pó à água e siga em frente com tudo para dentro do tacho. E a minha vida corria fluida e feliz desta maneira, até há uns meses para cá. Pois esta sopa desapareceu por completo das prateleiras dos supermercados, pelo menos dos da minha terra. Não a encontro em lado algum e cá em casa as opções de refeições estão mesmo muito limitadas. O que será que aconteceu a esta menina? Será que já só eu andava a comprá-la? Será que descobriram um componente maluco que fazia mal às pessoas? (isso por acaso explicava muita coisa que se passa diariamente no meu organismo). Será que estão a melhorá-la para um sabor ainda mais delicioso? Epá, a Knorr que nem pense em matá-la, que eu morro também, de tristeza.
Já arranjei um fato de Carnaval para o Rodrigo, mas como custou 4,90 euros não vos sei bem dizer que máscara é. É indefinida, a vida de pobre. Quando experimentei a parte de cima, o puto desatou-me num berreiro enorme. Olha se que tinha gasto os 25 euros de uns bichos que amei na Prenatal? Não existem arrependimentos na vida de pobre. E fazemos a festa e somos felizes.
terça-feira, fevereiro 07, 2012
Carnaval
Xiiii, o recado chegou hoje no caderninho da creche. No Carnaval o Rodrigo pode ir mascarado. Claro que vai! Os meus pais sempre me mascararam e era sempre uma festa.
Agora, de que é que se mascara um pirralho de dois anos? Já tive a puxar pela cabeça a ver se em casa teria alguma fatiota que pudesse adaptar, mas nada. Também não vou dar trinta euros por uma máscara. Solução? Amanhã vou correr aí uns chineses para ver se me inspiro, mas assim à partida acho que quero um bicho.
Agora, de que é que se mascara um pirralho de dois anos? Já tive a puxar pela cabeça a ver se em casa teria alguma fatiota que pudesse adaptar, mas nada. Também não vou dar trinta euros por uma máscara. Solução? Amanhã vou correr aí uns chineses para ver se me inspiro, mas assim à partida acho que quero um bicho.
segunda-feira, fevereiro 06, 2012
Voltando à vaca fria
Hoje o Rodrigo foi avaliado pela terapeuta ocupacional e correu tudo muito bem. Ainda andou quinze minutos encaracolado no meu colo sem dar muitas confianças à terapeuta, mas caramba, ela era tão boa (adorei) que não tardou muito para o Rodrigo começar a interagir com ela e a sorrir-lhe com pequenas brincadeiras. Foram passos pequeninos mas que me deixaram verdadeiramente feliz. Agora, é esperar que a vaga que existe seja para ele. Estou confiante que sim. Caso isso aconteça, passarei a ir com ele uma vez por semana à terapia. Caso isso não aconteça, bom, logo se vê. Um problema de cada vez senão não ganho para tapar os brancos, que já são aos molhos.
Pequena adenda (só eu): Mal entramos na sala da terapia, vejo que a técnica se descalça. Comecei a olhar para o ambiente esterilizado próprio de uma sala onde é suposto as crianças brincarem no chão, reparei nos colchões que cobriam metade da sala... e pronto, não havia volta a dar, o recado estava dado. Descalcei-me. Problema? Hoje vesti umas calças pretas e uma camisola cinzenta (eu sei, boring, mas não estava virada para grandes avarias) e as meias, meus amigos e amigas... as meias, oh meu Deus, as meias eram...tcham tcham tcham... de um azul turquesa que até ofuscava. Opá, as minhas amigas mais chegadas sabem que as minhas meias, quando não se vêem, são mesmo escolhidas ao acaso e nunca condizem. Até gozam comigo. Confesso que ali fiquei um pouco atrapalhada, mas também vos digo: mais vale meias à palhaço do que sujas, velhas ou rotas no dedão, é ou não é?
E pronto, agora é esperar que o telefone toque com good news, que é para isso que cá andamos.
É verdade, terceira opinião marcada para Março. Unidade da Primeira Infância da Estefânea, com Pedro Caldeira, o supra sumo dos assuntos do autismo. Até dá medo.
Pequena adenda (só eu): Mal entramos na sala da terapia, vejo que a técnica se descalça. Comecei a olhar para o ambiente esterilizado próprio de uma sala onde é suposto as crianças brincarem no chão, reparei nos colchões que cobriam metade da sala... e pronto, não havia volta a dar, o recado estava dado. Descalcei-me. Problema? Hoje vesti umas calças pretas e uma camisola cinzenta (eu sei, boring, mas não estava virada para grandes avarias) e as meias, meus amigos e amigas... as meias, oh meu Deus, as meias eram...tcham tcham tcham... de um azul turquesa que até ofuscava. Opá, as minhas amigas mais chegadas sabem que as minhas meias, quando não se vêem, são mesmo escolhidas ao acaso e nunca condizem. Até gozam comigo. Confesso que ali fiquei um pouco atrapalhada, mas também vos digo: mais vale meias à palhaço do que sujas, velhas ou rotas no dedão, é ou não é?
E pronto, agora é esperar que o telefone toque com good news, que é para isso que cá andamos.
É verdade, terceira opinião marcada para Março. Unidade da Primeira Infância da Estefânea, com Pedro Caldeira, o supra sumo dos assuntos do autismo. Até dá medo.
sexta-feira, fevereiro 03, 2012
Ironias
Não há maior do que esta.
"Caroline Lovell teve uma paragem cardíaca enquanto dava à luz a filha, Zahra, em casa, em Melbourne, na Austrália. A morte reacendeu o debate sobre os partos naturais em casa.
A australiana defensora dos partos em casa, Caroline Lovell, morreu ao dar à luz a filha. Tinha 36 anos e morreu devido a complicações cardíacas que surgiram durante o parto em casa, da sua segunda filha.
Ainda foi conduzida a um hospital, mas já nada foi possível fazer por Caroline Lovell, activista que lutou pela liberdade das mulheres para escolherem o local do nascimento dos filhos."
Jornal de Notícias
É ou não é a maior das ironias? Sempre admirei as mulheres que eram capazes de se aventurarem nesta experiência sem rede, porque pessoas como eu, que à primeira tontura pensam que estão a ter um AVC, ter um parto natural em casa é sinal de coragem.
Eu seria incapaz. Aliás, mesmo quando estive grávida, a ideia do parto natural, com epidural e em meio hospitalar assustava-me imenso. Como já devem ter lido neste blogue, acabei por fazer cesariana por razões de força maior, mas enquanto a hora não chegava, pensava que se conseguisse ultrapassar um parto natural, conseguiria tudo na vida.
"Caroline Lovell teve uma paragem cardíaca enquanto dava à luz a filha, Zahra, em casa, em Melbourne, na Austrália. A morte reacendeu o debate sobre os partos naturais em casa.
A australiana defensora dos partos em casa, Caroline Lovell, morreu ao dar à luz a filha. Tinha 36 anos e morreu devido a complicações cardíacas que surgiram durante o parto em casa, da sua segunda filha.
Ainda foi conduzida a um hospital, mas já nada foi possível fazer por Caroline Lovell, activista que lutou pela liberdade das mulheres para escolherem o local do nascimento dos filhos."
Jornal de Notícias
É ou não é a maior das ironias? Sempre admirei as mulheres que eram capazes de se aventurarem nesta experiência sem rede, porque pessoas como eu, que à primeira tontura pensam que estão a ter um AVC, ter um parto natural em casa é sinal de coragem.
Eu seria incapaz. Aliás, mesmo quando estive grávida, a ideia do parto natural, com epidural e em meio hospitalar assustava-me imenso. Como já devem ter lido neste blogue, acabei por fazer cesariana por razões de força maior, mas enquanto a hora não chegava, pensava que se conseguisse ultrapassar um parto natural, conseguiria tudo na vida.
quinta-feira, fevereiro 02, 2012
Os meus livros
Tenho saudades de te ler.
Tenho saudades de te levar na mala, desse lá por onde desse, porque sempre tive o condão de as usar a abarrotar, pesadas, até não caber lá dentro um isqueiro sequer. Mas tu lá ias sempre, com um dos lados a espreitar a rua que era quase sempre feita de um caminho estreito ladeado de redes esburacadas.
Tenho saudades de te ler e se não estou errada não o faço desde as manhãs nebulosas a cheirarem a biblioteca em que te pousava no meu colo na carruagem baforenta em que todos os dias um homem entrava a cheirar a after shave misturado com o último Gigante que fumara antes de entrar no comboio. E então pousava-te no meu colo e entrava nesse teu mundinho de coisinhas, em que cada palavra tem o seu sentidozinho, em frases alinhadas, sem erros nem gralhas.
Mas também fingi muitas vezes. Qual é a mulher que não finge? De olhos postos em ti, fingi muitas vezes que andava ali a entender o que me escrevias, mas os meus olhos estavam apenas postos em ti, como se olha para uma fatia de tarte por detrás de uma vidraça sem lhe tocarmos. Os meus olhos muitas vezes iam parar aos ouvidos e deixava-te ali no teu mundinho de coisinhas para me entreter com as conversas mundanas que duas velhas velhinhas iam a ter no banco da frente. Falavam tão rápido quanto o Cacém, a Amadora e o apeadeiro de Sete Rios varriam as janelas sujas. Eu perdia-me por ali e só voltava a ler-te quando bem me apetecesse. Não mandavas em mim. Ah, mas quando voltava a ler-te. Que delícia, quando voltava a ti. A abrires-me novas portas, a romanceares a minha vida agitada... e a dares-me sono. Não me leves a mal, mas era verdade. Mutas vezes deste-me sono e dava por mim a comer-te as linhas e os ponto e vírgulas e tudo o que me pusesses à frente com as tuas coisinhas. A precocidade do dia e o embalo dos carris faziam-me adormecer pelo caminho, com o cotovelo a magoar-se naquelas janels que não foram feitas para dormirtar e com a mão encostada ao queixo. Fiel companheiro, lá te fazias cair do meu colo às páginas tantas, como que a salvar-me de uma frequência falhada ou de mais uma falta à primeira cadeira da manhã. E quase sempre era tarde demais. Lembras-te? Lá iamos depois num corropio, tu a tentares agarrar-te por baixo do meu braço, amarrotado mas nunca esquecido, e eu a tentar arrastar o meu rabo e aquela mala, ui, sempre tão pesadas e a abarrotar. O caminho inverso já se fazia sem magia, era antes um sobressalto onde a única missão era estabilizar o ritmo cardíaco e as emoções de mais um dia começar no sentido contrário. Tu ainda esquecido na minha axila, enquanto guardo o passe no único recanto ainda livre da minha mala.
E já só nos voltávamos a reencontrar ao final do dia, com o bafo saturado, a fazermos as pazes. Eu a pedir-te desculpa, a prometer-te que velha alguma me iria roubar de ti pela manhã. Mas caramba, aquelas velhas velhinhas eram mesmo boas.
Tenho saudades de te ler.
Tenho saudades de te levar na mala, desse lá por onde desse, porque sempre tive o condão de as usar a abarrotar, pesadas, até não caber lá dentro um isqueiro sequer. Mas tu lá ias sempre, com um dos lados a espreitar a rua que era quase sempre feita de um caminho estreito ladeado de redes esburacadas.
Tenho saudades de te ler e se não estou errada não o faço desde as manhãs nebulosas a cheirarem a biblioteca em que te pousava no meu colo na carruagem baforenta em que todos os dias um homem entrava a cheirar a after shave misturado com o último Gigante que fumara antes de entrar no comboio. E então pousava-te no meu colo e entrava nesse teu mundinho de coisinhas, em que cada palavra tem o seu sentidozinho, em frases alinhadas, sem erros nem gralhas.
Mas também fingi muitas vezes. Qual é a mulher que não finge? De olhos postos em ti, fingi muitas vezes que andava ali a entender o que me escrevias, mas os meus olhos estavam apenas postos em ti, como se olha para uma fatia de tarte por detrás de uma vidraça sem lhe tocarmos. Os meus olhos muitas vezes iam parar aos ouvidos e deixava-te ali no teu mundinho de coisinhas para me entreter com as conversas mundanas que duas velhas velhinhas iam a ter no banco da frente. Falavam tão rápido quanto o Cacém, a Amadora e o apeadeiro de Sete Rios varriam as janelas sujas. Eu perdia-me por ali e só voltava a ler-te quando bem me apetecesse. Não mandavas em mim. Ah, mas quando voltava a ler-te. Que delícia, quando voltava a ti. A abrires-me novas portas, a romanceares a minha vida agitada... e a dares-me sono. Não me leves a mal, mas era verdade. Mutas vezes deste-me sono e dava por mim a comer-te as linhas e os ponto e vírgulas e tudo o que me pusesses à frente com as tuas coisinhas. A precocidade do dia e o embalo dos carris faziam-me adormecer pelo caminho, com o cotovelo a magoar-se naquelas janels que não foram feitas para dormirtar e com a mão encostada ao queixo. Fiel companheiro, lá te fazias cair do meu colo às páginas tantas, como que a salvar-me de uma frequência falhada ou de mais uma falta à primeira cadeira da manhã. E quase sempre era tarde demais. Lembras-te? Lá iamos depois num corropio, tu a tentares agarrar-te por baixo do meu braço, amarrotado mas nunca esquecido, e eu a tentar arrastar o meu rabo e aquela mala, ui, sempre tão pesadas e a abarrotar. O caminho inverso já se fazia sem magia, era antes um sobressalto onde a única missão era estabilizar o ritmo cardíaco e as emoções de mais um dia começar no sentido contrário. Tu ainda esquecido na minha axila, enquanto guardo o passe no único recanto ainda livre da minha mala.
E já só nos voltávamos a reencontrar ao final do dia, com o bafo saturado, a fazermos as pazes. Eu a pedir-te desculpa, a prometer-te que velha alguma me iria roubar de ti pela manhã. Mas caramba, aquelas velhas velhinhas eram mesmo boas.
Tenho saudades de te ler.
segunda-feira, janeiro 30, 2012
Que serão!
É quase meia-noite e o Zé ainda tenta adormecer o Rodrigo. Esta noite a coisa não correu bem. O baby cortou-se num dedo e sangrou muito. Como se nada fosse, andou a fugir-me pela casa com aquele pequenito dedo "sanguinário" a encher-me todos os cantos da casa de sangue. Eu a tentar desesperadamente conter-lhe o sangue, a correr atrás dele com toalhetes e a limpar tudo o que via à frente. O Zé chegou em boa hora, mas coitado, que belo cenário encontrou! Fui à rua a correr comprar pensos (como é que nunca me tinha ocorrido que poderia dar jeito numa casa com crianças), e a muito custo pus-lhe no dedo. Aí, sim, ele chorou. Fez uma birra enorme com direito a soluçoes e tudo. Olhava para o dedo, olhava para mim. Ainda adormeceu uns dez minutos, mas das quatro vezes que tentei pô-lo na cama acordou. Isto foi mais ao menos às dez. Faltam dez minutos para a meia-noite e nada... Isto está bonito.
quinta-feira, janeiro 26, 2012
Mas afinal em que ficamos?
Isto a propósito da equipa médica do Hospital de Santa Maria ter indicado no relatório médico do Rodrigo que deveria iniciar de imediato sessões de terapia da fala pelo menos duas vezes por semana. Agora, o Grupo de Intervenção Local de Mafra, que já está a avaliar o Rodrigo, diz que essa terapia é contraproducente e não aconselhada antes dos três anos. Mas então senhores doutores, em que ficamos?
E pronto, lá vou eu procurar uma terceira opinião.
E pronto, lá vou eu procurar uma terceira opinião.
quinta-feira, janeiro 19, 2012
segunda-feira, janeiro 16, 2012
A minha mãe
Como vos tinha contado, hoje era dia da psicóloga do Rodrigo vir cá a casa para uma primeira entrevista. Não pus a casa num brinco, mas tentei que estivesse tudo mais ao menos apresentável. Foi já à ida para o trabalho que me lembrei de um cesto de roupa para passar que tinha deixado no quarto do baby. Liguei à minha mãe que estava em minha casa a tomar conta do piqueno.
-Mãe, faz-me um favor, põe o cesto de roupa no meu quarto que a psicóloga vai aí à noite e não quero que aquilo esteja lá.
... já quase ao final do dia.
- Filha, já pus o cesto no teu quarto. Aproveitei também e levantei a roupa que estava no estendal no meio da cozinha porque já estava mais do que seca. Ah, e limpei-te o chão da sala e do hall que já tinha muito pó... eu sei que a empregada vem cá amanhã, mas assim está melhor. Este pó é capaz de fazer ainda pior ao ranho do menino. E na cozinha também varri o chão. Tu não varres o chão? Lá em minha casa varro todos os dias o chão da cozinha. Olha filha, não leves a mal, mas aproveitei e tirei a toalha às riscas da mesa de refeições, aliás a ideia é que quando se acaba de comer se levante a loiça e também a toalha. Não fiz mal, pois não? É que a toalha estava posta há mais de uma semana. Ana?...
- Sim mãe...
- Fiz-te uma canjinha, mas não é como a que tu fazes, esta está muito boa.
-Mãe, faz-me um favor, põe o cesto de roupa no meu quarto que a psicóloga vai aí à noite e não quero que aquilo esteja lá.
... já quase ao final do dia.
- Filha, já pus o cesto no teu quarto. Aproveitei também e levantei a roupa que estava no estendal no meio da cozinha porque já estava mais do que seca. Ah, e limpei-te o chão da sala e do hall que já tinha muito pó... eu sei que a empregada vem cá amanhã, mas assim está melhor. Este pó é capaz de fazer ainda pior ao ranho do menino. E na cozinha também varri o chão. Tu não varres o chão? Lá em minha casa varro todos os dias o chão da cozinha. Olha filha, não leves a mal, mas aproveitei e tirei a toalha às riscas da mesa de refeições, aliás a ideia é que quando se acaba de comer se levante a loiça e também a toalha. Não fiz mal, pois não? É que a toalha estava posta há mais de uma semana. Ana?...
- Sim mãe...
- Fiz-te uma canjinha, mas não é como a que tu fazes, esta está muito boa.
sábado, janeiro 14, 2012
Ai pá...
... desculpem os meus longos períodos de ausência. Que vergonha não conseguir organizar-me para poder partilhar convosco as coisas da minha vidinha.
Bom, a verdade é que isto tem andado para aqui muito confuso. Começando pelo facto do Rodrigo ter tido uma escarlatina e de uma médica imbecil lhe ter receitado o antibiótico errado. É o que dá a malta andar a desenrascar-se em centros de saúde e não ir ao pediatra ou a umas urgências da CUF. Enfim, está outra vez com escarlatina, mas agora - quero crer - com a terapêutica adequada. O pior é mesmo o ranho e a tosse que ele tem tido nos últimos dois dias. Hoje inovei e espetei no chão do quarto um tuperware com cebola cortada aos gomos. Diz que é uma mezinha muito antiga e que resulta. E não me importo que amanhã o miúdo acorde a cheirar a refogado, desde que passe uma noite mais tranquila.
Com tudo isto, perdi hoje um lanche maravilhoso para comemorar os sete meses de gravidez da minha amiga e mana T. Mas é mesmo assim, mãe sofre.
E trabalhadora também. Que ninguém aguenta a onda de despedimentos que vai para aquela minha empresa. Dá dó andar pelos corredores. E, os que como eu ficam, nem sabem bem o que dizer aos que vão. Isto não está fácil e, na verdade, vejo muita gente a não dar valor ao que tem.
Bom domingo aos meus queridos leitores.
Segunda-feira recebo em minha casa a psicóloga que vai liderar a terapia ao Rodrigo na escola. Vai precisar de um terapeuta da fala duas vezes por semana, uma terapeuta ocupacional, uma psicóloga e terapeuta de psicomotricidade. Entretanto, quarta-feira inicia as sessões de musicoterapia. Vamos ver como tudo corre, mas para já está bem encaminhado e a resposta do Grupo de Intervenção Precoce aqui da zona até foi bem rápida. Embora o diagnóstico ainda não esteja fechado por ele ser muito pequeno, a equipa conclui que se trata de facto de uma perturbação no espectro do autismo, mas muito leve, com as principais dificuldades a residirem na área da linguagem e na área social.
Bom, a verdade é que isto tem andado para aqui muito confuso. Começando pelo facto do Rodrigo ter tido uma escarlatina e de uma médica imbecil lhe ter receitado o antibiótico errado. É o que dá a malta andar a desenrascar-se em centros de saúde e não ir ao pediatra ou a umas urgências da CUF. Enfim, está outra vez com escarlatina, mas agora - quero crer - com a terapêutica adequada. O pior é mesmo o ranho e a tosse que ele tem tido nos últimos dois dias. Hoje inovei e espetei no chão do quarto um tuperware com cebola cortada aos gomos. Diz que é uma mezinha muito antiga e que resulta. E não me importo que amanhã o miúdo acorde a cheirar a refogado, desde que passe uma noite mais tranquila.
Com tudo isto, perdi hoje um lanche maravilhoso para comemorar os sete meses de gravidez da minha amiga e mana T. Mas é mesmo assim, mãe sofre.
E trabalhadora também. Que ninguém aguenta a onda de despedimentos que vai para aquela minha empresa. Dá dó andar pelos corredores. E, os que como eu ficam, nem sabem bem o que dizer aos que vão. Isto não está fácil e, na verdade, vejo muita gente a não dar valor ao que tem.
Bom domingo aos meus queridos leitores.
Segunda-feira recebo em minha casa a psicóloga que vai liderar a terapia ao Rodrigo na escola. Vai precisar de um terapeuta da fala duas vezes por semana, uma terapeuta ocupacional, uma psicóloga e terapeuta de psicomotricidade. Entretanto, quarta-feira inicia as sessões de musicoterapia. Vamos ver como tudo corre, mas para já está bem encaminhado e a resposta do Grupo de Intervenção Precoce aqui da zona até foi bem rápida. Embora o diagnóstico ainda não esteja fechado por ele ser muito pequeno, a equipa conclui que se trata de facto de uma perturbação no espectro do autismo, mas muito leve, com as principais dificuldades a residirem na área da linguagem e na área social.
segunda-feira, janeiro 02, 2012
Bom ano

O meu foi bom. Em casa. Tranquilo. Com Rodrigo a dormir e a melhorar de uma escarlatina. Sim, apanhou a bicheza na creche. Começou com borbulhinhas por todo o corpo e muita rabujice. Ao fim de três dias percebi que aquilo não era uma borbulhage qualquer e muito menos mau feitio e fui com ele ao médico. Não houve dúvidas: escarlatina! Mas enfim, já está bom e hoje até já foi à escola.
Como vos dizia, a passagem de ano foi muito calminha, mas muito boa. Jantar à altura, um brinde valioso e as tradições todas a serem seguidas (cuecas azuis oferecidas e por estrear, nota na mão, e a comer as passas ao som das doze badaladas em cima de uma cadeira).
A todos vocês desejo-vos um ano muito feliz.
quinta-feira, dezembro 22, 2011
Um bom presente
E pronto. Hoje chegou a boa notícia. Tudo pronto no grupo de Intervenção Precoce de Mafra para que o Rodrigo tenha terapeutas a ir à escola. Ufa, menos uma!
quarta-feira, dezembro 21, 2011
Há tanto tempo que não vinha aqui. Ó meu Deus. Mas por aqui tem havido muita agitação.
Antes de mais, o Rodrigo:
Bom, em Janeiro recebo o relatório da equipa médica com o grau de perturbação do espectro do autismo que o Rodrigo tem. Nessa altura começará com sessões de Musicoterapia no Hospital de Santa Maria. Vamos aproveitar o facto de ele adorar música para o estimularmos em algumas áreas. Esse mesmo relatório definirá ainda a frequência das sessões de terapia ocupacional e terapia da fala que ele precisará.
Entretanto, e enquanto o relatório não chega, ando já a ver o que é preciso para pedir ao Estado esses técnicos de modo a que se desloquem também à escola. Não me apetecia nada que o Rodrigo andasse de um lado para o outro em consultas aqui e ali e sempre a faltar à creche. Para além de que seria melhor do que estar a pagar pelo privado. Já percebi que não é fácil, mas estou ainda em demarches. A ver vamos.
Na escola, ele te estado óptimo e em casa já começa a fazer novas vocalizações. Dá-me ideia que está a querer falar novamente, visto que recomeçou a apontar para os livros e a olhar para a minha boca muito atento enquanto digo as palavras. Tudo estaria bem não se desse o caso de estar a demorar uma hora e meia para adormecer. Ao colo, embalado, eu em pé, com os meus braços numa posição muito específica, uma posição que me arruína as costas, que me deixa com os braços dormentes ao fim de vinte minutos, e que se não for assim o raio do miúdo não me adormece. Quando finalmente o ponho na cama (a sessão tem início às 21h30 e acaba às 23 horas) já estou pronta para ir para a cama. Estafada.
Comigo, tudo a andar. Apesar da crise, lá consegui que um i phone muito lindo descansasse por baixo da árvore há cerca de duas semanitas e agora só me preocupam mesmo os presentes de Natal que ainda estão por comprar. E quais são eles? Os meus, eh eh. Os meus sogros preferem que seja eu a escolher e são esses que me faltam. Tirando isso, tenho é milhentos embrulhos para fazer.
Se não vier cá antes um Feliz Natal para todos os que gostam de vir aqui ao burgo e a seguir chego já com um post das minhas resoluções para 2012.
Antes de mais, o Rodrigo:
Bom, em Janeiro recebo o relatório da equipa médica com o grau de perturbação do espectro do autismo que o Rodrigo tem. Nessa altura começará com sessões de Musicoterapia no Hospital de Santa Maria. Vamos aproveitar o facto de ele adorar música para o estimularmos em algumas áreas. Esse mesmo relatório definirá ainda a frequência das sessões de terapia ocupacional e terapia da fala que ele precisará.
Entretanto, e enquanto o relatório não chega, ando já a ver o que é preciso para pedir ao Estado esses técnicos de modo a que se desloquem também à escola. Não me apetecia nada que o Rodrigo andasse de um lado para o outro em consultas aqui e ali e sempre a faltar à creche. Para além de que seria melhor do que estar a pagar pelo privado. Já percebi que não é fácil, mas estou ainda em demarches. A ver vamos.
Na escola, ele te estado óptimo e em casa já começa a fazer novas vocalizações. Dá-me ideia que está a querer falar novamente, visto que recomeçou a apontar para os livros e a olhar para a minha boca muito atento enquanto digo as palavras. Tudo estaria bem não se desse o caso de estar a demorar uma hora e meia para adormecer. Ao colo, embalado, eu em pé, com os meus braços numa posição muito específica, uma posição que me arruína as costas, que me deixa com os braços dormentes ao fim de vinte minutos, e que se não for assim o raio do miúdo não me adormece. Quando finalmente o ponho na cama (a sessão tem início às 21h30 e acaba às 23 horas) já estou pronta para ir para a cama. Estafada.
Comigo, tudo a andar. Apesar da crise, lá consegui que um i phone muito lindo descansasse por baixo da árvore há cerca de duas semanitas e agora só me preocupam mesmo os presentes de Natal que ainda estão por comprar. E quais são eles? Os meus, eh eh. Os meus sogros preferem que seja eu a escolher e são esses que me faltam. Tirando isso, tenho é milhentos embrulhos para fazer.
Se não vier cá antes um Feliz Natal para todos os que gostam de vir aqui ao burgo e a seguir chego já com um post das minhas resoluções para 2012.
terça-feira, novembro 22, 2011
Ora bolas
E pronto. Decisão familiar tomada e comunicada a todos: "este Natal só há presentes para os pequeninos."
Tudo bem. Tudo bem. Mas pelo sim pelo não vou de sapatos rasos. Assim como assim tenho um mísero 1,62 m de altura.
Tudo bem. Tudo bem. Mas pelo sim pelo não vou de sapatos rasos. Assim como assim tenho um mísero 1,62 m de altura.
terça-feira, novembro 15, 2011
Subscrever:
Mensagens (Atom)