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sábado, maio 28, 2005

Palitos de la RIEN

- Zé do Pipo desatarraxa o doce aroma da rolha e contagia-se pelo sabor a efluir do garrafão enorme. Não consegue lembrar-se da receita de bacalhau que inventou, mas espera que Baltazar Cardoso, o amigo ébrio folião do momento, dela se recorde no meio das memórias daquela vez em que foi mordido pela cascavel, história que já contou mil vezes.

- Aos fins das tardes, Dom Hipopótamo bocejava de cada vez que pensava em todas as coisas inúteis que havia para fazer. Ficava invadido pelo tédio até terminar o expediente do problema de pensar e ia tranquilamente ressonar para casa.

- O marco do correio nunca chegou a receber as ardentes cartas de amor que Firmino Miguel todas as noites murmurava para o papel. Mil cartas tantas vezes imaginadas, à procura do verbo certo...; escrevia por necessidade, não por inspiração. As palavras saíam-lhe em prata, ricas de gritos mudos sorrisos e nunca chegariam ao ouvido de Filomena.

- Fui plantada como as outras por um bando de crianças ruidosas da escola C+S do Pendão. Estes miúdos agora não estudam os nomes dos rios nem sabem de botânica, de modo que nem sei a que espécie arbórea pertenço. Daqui a um ano, no próximo Dia da Árvore, hão-de andar novamente noutros centímetros de concelhia, a posar para as fotos do Jornal da Região.

- Naquela filial suburbana do gigante Finantropus, os funcionários esperam todas as manhãs a comezinha energia despendida em pequenas coisas úteis, o poder amealhar as pequenas metas de fácil realização. Mas o que realmente lhes faz esfregar as mãos de contentes é verem entrar a Dona Esperança, prestes a fazer mais um depósito a prazo sem desconfiar que o capital é de risco.

- Eu sou um guardador de rebanhos e os meus pensamentos são todos sensações. O resto já leram; de meu nome Alberto Caeiro não descendo nem por sombras do Pessoa, e se acordo nas manhãs de corpo deitado realista não é por ser pessimista, mas por Ter este espaço vazio no lugar do coração e saber chorar sem lágrimas.

- Na mesma época em que começou a aprender a dançar, sentiu essa redoma sobre si, como uma insónia a respirar por cima da noite. Madalena aguardou que a arte retirasse esse feitiço egoísta que houvera lançado sobre si para poder bailar ao contrário dos ponteiros do relógio.

- Pedro Predestinado quis ser também um poeta quando descobriu que todas as palavras que se escreveram cabem num raio de sol. E calculou que dez minutos de meditação valessem mais que dois minutos de conversa. Cheio de imagens muitas criou uma vontade solitária à espera de uma musa. E concluiu que a espera é uma palavra sem fim em qualquer boca e que a maior parte das palavras demoram a dizer. Por isso deixou-se de lérias e foi à tasca do Manel mastigar um licor Beirão.

- E o amor respondeu-lhe: « Ficarias espantado com o que a distância pode fazer-me...». «Porquê? Não tens as pernas compridas, amor?», retorquiu-lhe. Porém o segredo é não fazer mais perguntas ao amor, é deixar que ele responda se souber e lhe aprouver.

- Senhores e Senhoras, Meninos e meninas, acerquem-se ao terreno da fogueira das vaidades!! Por apenas uns soldos vejam arder os autênticos paus de dois bicos, cintos de castidade com chaves triplas e emoções de tectos falsos. É obrigatória a visita das tendas onde poderão pôr um olho no burro e outro no cigano, dar uma no cravo e outra na ferradura... e ainda assistir ao nosso mágico a distrair atenções com lenços de várias cores e a dizer «nada na manga».

- Quem ri por último é um prato que se serve frio.

segunda-feira, maio 23, 2005

Uma leonina a dar os parabéns a lampiões só podia dar isto...

Eu sou do Sporting, mas garanto que não tenho mau perder. A sério! Parabéns a todos os benfiquistas. Principalmente para os milhares que foram festejar o título para o Marquês de Pombal. Aquilo é que era alegria! Mas só um aparte, quando o Sporting foi campeão os festejos foram feitos no Marquês por causa de uma coisa que está lá e que se chama leão. Ok? Símbolo do clube leonino. Os benfiquistas têm de arranjar uma águia aí num sítio qualquer para não andarem a fazer figurinhas junto a um símbolo que nada lhes diz. A verdade é que a festa aí correu tão bem, que ainda não era meia-noite e a rotunda já estava às moscas.
Bom, mas a verdade é que estou hoje a escrever para dar os parabéns a todos os benfiquistas. Principalmente aos magotes que ontem à noite encheram a Segunda Circular, com cachecóis, buzinadelas, e cantorias bem mais engraçadas que as papoilas saltitantes (já cansava). Mas era escusada tanta batidela. Ó lampiões, é assim tão difícil apertar a buzina e conduzir ao mesmo tempo sem bater no carro da frente?
Bom, mas isso também não interessa. Na Luz é que a festa estava mesmo bonita. Sete horas, sem tirar nem pôr. Sete horas à espera da chegada dos jogadores enquanto uns tipos que ninguém conhece iam cantando algumas coisas em palco. Uma verdadeira euforia tendo em conta a quantidade de pessoas que já dormia nos assentos. O mesmo palco que passadas todas aquelas horas recebeu, um por um, os craques da bola. E mais uma vez os benfiquistas estiveram de parabéns ao invadirem fanaticamente o campo e obrigando à corrida desenfreada de toda a equipa do Benfica em direcção ao túnel de acesso aos balneários. Confesso que nunca tinha visto uma fuga tão louca dos próprios adeptos do clube. E mais uma sugestão: em vez de terem atirado t-shirt’s e outras coisas sem importância do autocarro panorâmico que ia dando cabo de toda a sinalização da cidade, os jogadores deviam ter atirado aos adeptos trompetes, amplificadores e harmónicas. Pois estes parece que, na altura da invasão de campo, para além de terem satisfeito a vontade de estrangular Nuno Gomes, Ricardo Rocha e Trapattoni (vá-se lá saber porquê) decidiram ainda roubar instrumentos e aparelhagens que estavam junto ao palco. E animação que é animação não passa sem umas boas lambadas e pontapés entre adeptos do mesmo clube.
Assim é que é! E assim é que foi!

Parabéns ao Benfica que, sinceramente, não merece mais de metade daqueles que se dizem simpatizantes do clube.

sexta-feira, maio 20, 2005

Na vida, como no futebol, umas vezes ganha-se outras perde-se

Sei que o título acima escolhido fala duma verdade mais que evidente... mas não é à toa que este blog se chama "coisas que tal" (o nome em si foi muito bem imaginado pela Ana e agradou-me a escolha por não pretender significar nada).

E neste tal e coisas de ir deixando escapar o verbo, nos apercebemos átomos. A vida é muito rápida. Ainda ontem entrávamos para a escola primária, ontem nos apercebíamos que tínhamos mais jeito para o desenho que para o desporto, ou mais vontade de números que de letras, ontem depois descobríamos que afinal não sabíamos muito bem para o que tínhamos jeito... ontem nos interrogávamos sobre o que é afinal essa coisa de se ter jeito para coisas que tal. A vida é muito rápida. Estamos sempre a perder e a ganhar. Em espiral ascendente; pelo menos é nisto que cremos.

Continuo a gostar do verde. Na vitória, como na derrota... e não percebo nada de futebol.

sábado, maio 14, 2005

O factor sorte

A sorte é como o raio: nunca sabe onde vai cair

A sorte bate uma vez à porta de uma pessoa

A sorte é para quem a tem, toca a quem toca

A sorte varia: hoje a favor, amanhã contraria

Sorte nasce cada manhã e já está velha ao meio-dia
.....

Concorri ao programa de televisão "Um Contra Todos". Para os que conhecem as regras do jogo: estou sentada na cadeira alta prestes a responder à 5ª pergunta e ainda tenho os trunfos todos. E o que vai acontecer será apenas uma questão de sorte!... Aproveitei o aparecer na televisão para elogiar o António Lobo Antunes - só por isso valeu a pena; e ainda posso ganhar aguns Euros, além da boa disposição.

terça-feira, maio 10, 2005

O amor alimenta

O amor é rico em vitaminas. Contém todos os elementos químicos da tabela periódica que se agrupam em infinitas combinações porque nunca se repete. Está presente em todos os grupos da roda dos alimentos; é fértil em proteínas e hidratos de carbono que fornecem a energia para ser consumido a qualquer momento.
O amor pode ser comido cru, e, a ser cozinhado, que o seja em lume brando para se poder saborear lentamente na planura dos momentos. O amor, quando puro, come-se à mão, sem talheres de prata já que não é carente de artifícios, não precisa de banda sonora nem de ser iluminado por velas. Para catalizador da "amorase" basta um olhar profundo que acelere o crescendo do desejo para ser ingerido sem moderação.

Com a digestão do amor surge depois o medo da intimidade... mas esse receio, como tudo o que se digere, terá a sua porta de saída, ao passo que o amor já decomposto seguirá nas veias a caminho do coração.

sexta-feira, maio 06, 2005

Como contar uma boa história num só parágrafo

«(...)
Depois vinha a história de sempre. Ele encostava-se na cadeira de couro gasto, semicerrava os olhos já de si miúdos e começava a falar do avô, esse homem que lhe assegurara que há um destino nas viagens, que nos devemos permitir ao luxo da aventura enquanto a juventude vinga. «É que depois, quando a velhice começa a chegar ao coração, e isso não é quando fazemos 60 anos, não é... é quando sentimos a necessidade de nos instalarmos, aí já não vale a pena fazermo-nos à estrada». Nessa altura, começou a falar ao Pai dos aviões e ele ria-se, dizia que se o Senhor nos quisesse acima das nuvens tinha aproveitado a costela de Adão para fazer mais pássaros em vez de abençoar o mundo com a presença feminina.
(...)»
Patrícia Reis in Cruz das Almas

Para quem tem o teu coração... Obrigada por este livro. E por tudo.

terça-feira, maio 03, 2005

Parabéns Anette !!

A minha amiga Ana faz hoje 28 anos.
A minha amiga Ana é como o vinho do Porto, quanto mais velha mais apurada e cada vez mais gira.
A minha amiga Ana é um espectáculo de boa disposição e é responsável por algumas das gargalhadas mais escancaradas da minha vida.
A minha amiga Ana escreve tão bem e com tal facilidade que eu até me babo toda.
A minha amiga Ana convidou-me para escrever neste blog e eu aceitei, embora a medo.
A minha amiga Ana gosta de malabarismo e canta o fado na perfeição.
A minha amiga Ana adora o Jubi e o sentimento é correspondido.
A minha amiga Ana tem qualidades extraordinárias e defeitos medianos, num mix em tudo agradável.
A minha amiga Ana é uma pessoa especial e por mais parágrafos que escreva nunca conseguirei transmitir o que sinto.
Por isso quero desejar os parabéns à minha amiga Ana, também em nome de todos vós.

Amiga Ana, isto foi escrito à pressa mas com sentimento, afinal não podia deixar passar em branco!... Tem um grande dia!!