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quinta-feira, setembro 15, 2005

Sem título

Acordava nessas manhãs de Inverno sentindo-se um pouco Lobo das Estepes. Nas horas do despertar julgava-se muito mais Lobo, soltando breves grunhidos. Mas depois durante o dia achava-se deprimido, oprimido até, quase soterrado pela ideia humana que de si fazia. À noite esse lado lupino regressava mais evidente, quase a arregaçar os caninos, e piorando com a madrugada. Como que arriscaria esboçar umas quantas teorias sobre o binómio homem-lobo, não fosse o facto de ainda estar a meio do livro. Nessas manhãs estugava o passo a caminho da estação de comboios do subúrbio e, na viagem, o livro adormecia na pasta enquanto a barriga repousava no cinto. À noite se tivesse sorte, encontraria melhor companhia para a almofada que o Hermann Hesse. Se tivesse sorte... e desde que não dissesse à jovem rapariga diante de si: " Pois, sou eu. Sou uma pessoa que tenho metade de homem e metade de Lobo, ou que julga ser assim."

2 comentários:

Rui Borges disse...

'Quem, entretanto, imaginar que conhece o Lobo da Estepe e pode analisar sua existência lamentavelmente dividida, incorrerá, sem dúvida, em erro, pois ainda não sabe tudo. Não sabe que (como não há regra sem exceção e como um simples pecador em certas circunstâncias pode ser mais querido a Deus do que noventa e nove justos) Harry também conhecia de quando em vez exceções e momentos ditosos em sentir harmonia, e mesmo em raras ocasiões estabelecer a paz e viver um para outro de tal forma que não apenas um vigiava enquanto o outro dormia, mas também se fortaleciam ambos e cada um duplicava a energia do outro. Também na vida desse homem parecia, como em todas as partes do mundo, que o costumeiro, o consuetudinário, o conhecido e o normal tinham simplesmente por objeto permitir de quando em quando a pausa de um segundo de duração para dar lugar ao extraordinário, ao milagroso, à graça. Se tais curtas e raras horas de ventura compensavam e dulcificavam a triste sina do Lobo da Estepe, de forma que a felicidade e a desventura viessem a equilibra-se finalmente na balança, ou se, talvez, este breve mas intenso usufruir daquelas poucas horas compensava todo o sofrimento e deixava um saldo favorável de alegria, é questão sobre a qual podem meditar as pessoas ociosas a seu talante. Também o Lobo meditava isso, em seus dias mais ociosas e inúteis.'

in O Lobo das Estepes
de Hermann Hesse

http://www.gropius.hpg.ig.com.br/lobo.htm

Margarida Batista disse...

Querido Lobo das Estepes ou de Compostela ou simplesmente dono da loba, a tal cadela linda a quem nunca tive o prazer de fazer uma festinha, és aqui sempre muito bem aparecido. Beijos mto gds