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terça-feira, julho 31, 2012

A revelação

O Zé está todo ofendido comigo porque lhe disse que quase de certeza que ele tem qualquer coisa de leve no espectro do autismo que não foi diagnosticado em criança. Isto surgiu depois de eu ter visto estas últimas notícias que dão como certo que o autismo é hereditário. Opá, de facto é inegável que o Zé tem comportamentos obssessivo-compulsivos, rotinas muito bem estipuladas, dificuldade em lidar com tudo o que sai da sua zona de conforto e alguns problemas de interacção social. Andava caladinha a pensar isto só para mim quando a minha sogra me diz o seguinte: "Sabes que o Zé quando era pequenino riscava os livros todos. A professora até falou comigo, preocupada com o comportamento. Quer dizer, ele fazia aquilo porque esteve muito tempo para nascer, foi um parto muito complicado, percebes?". Não, não percebo o que é que uma coisa tem a ver com a outra. E nesse momento fez-se luz na minha cabeça, coloquei a última peça do puzzle: o Zé tinha mesmo qualquer coisa relacionada com o autismo. E há dois dias disse-lhe o que achava. Ficou passado, disse-me que não quer mais conversas sobre isso, mas eu acho que ele lá no fundo sabe que eu tenho razão.

16 comentários:

Marinheira de 1ª Viagem disse...

Por vezes é dificil ter contato com a realidade...
Tudo correrá bem! ;)

SMS disse...

Faz todo o sentido, Anette. Já falei com muitas pessoas sobre esse assunto e geralmente são as mulheres que, ao ser diagnosticado uma doença do espectro do autismo aos filhos, começam a olhar para os maridos e a juntar as peças do puzzle. Não estás sozinha. Já foste com o teu baby ao Cadin? Lá ajudam os filhos, os pais e ajudam a contextualizar tudo isso. O professor Nuno Lobo Antunes é o especialista de serviço. Beijo.

Anónimo disse...

Deve entender que para o seu marido deve ser dificil , aceitar/entender/carregar a "culpa" do filho ser "diferente".

Muita força,

Beijinhos

Sandra

Anónimo disse...

tenho um filho com 6 anos que nos pregou um grande susto. Só começou a falar muito depois dos 3 anos e apenas deixou a fralda aos 4. Desde cedo foi acompanhado no diferenças, que recomendo vivamente. Esteve-se na dúvida entre uma perturbação de linguagem e uma perturbação de autismo. Começou logo com terapia da fala e os resultados foram espantosos. Hoje prestes a começar o 1º ciclo está perfeitamente bem. O curioso é que olho para o pai e para o avô e vejo pormenores iguais. São apenas (deliciosamente)diferentes.
Que tudo corra bem!
Ana B

Anette disse...

Pois, não devo ser mesmo a única a fazer estas associações. O Rodrigo está a ser acompanhado na Apercim e tem corrido tudo muito bem.

Helena disse...

Olá, realmente não é a única a associar as coisas - como diz o ditado eles não saem aos bichinhos do monte!
Eu também cheguei muito rapidamente a essa conclusão, felizmente o meu marido aceita que realmente tem traços da "coisa". Quando ele era pequeno também se isolava, diz que as brincadeiras dos amiguinhos não lhe interessavam, que era muito mais interessante ver as máquinas a construirem a auto estrada que passava perto. A nossa relação esteve "abanada" algumas vezes por causa da personalidade dele, a confusão que me metia ele falar comigo sem me olhar nos olhos, felizmente conseguiu ultrapassar essa dificuldade, mas continua a ser pouco comunicativo, eu tenho que ser a chama para uma conversa se desenvolver, mas se forem assuntos do interesse dele fala por 20 e sabe tudo, vá lá que temos interesses parecidos. É uma pessoa que dá respostas sempre racionais mesmo perante assuntos delicados, quem não gostar azar... Quando o chamo à atenção responde-me que não é impostor!
Tem dificuldades em entender sarcasmos e metáforas. As vezes passa por mal educado porque se esquece de cumprimentar, e não tem muita noção de hierarquias, é capáz de falar com o patrão como fala com um colega...
é um desastre na interação e no jogo social...
Não sabe mentir, nem ser matreiro, cumpre religiosamente horários e regras. É muito impaciente, quando está a trabalhar em algo que goste fica tão absorvido que parece surdo (como a minha filha).
Também tem comportamentos obsessivo-compulsivos e atrapalha-se com mudanças.
Quando a médica da minha filha me perguntou se tinha alguém na familia com dificuldades de comunicação e interação eu descrevi-lhe o meu marido, ela deu um sorriso e disse-me "tantos traços da sindrome de Asperger..."

Helena disse...

Só queria acrescentar que apesar de todos estes comportamentos não acho que o meu marido esteja no espetro porque esses comportamentos não condicionam a sua vida, ele tem um trabalho onde é o melhor no que fáz, é um pai fantástico e um marido excelente (às vezes sinto-me triste por ele ser tão fechado, mas por outro lado tenho uma pessoa verdadeira e com os pés bem assentes na terra, que gosta de nos fazer todas as vontades e que se deixa guiar facilmente :)
Tenho muita esperança que a minha filha também venha a conseguir sair do espectro.

Helena disse...

Só mais uma coisinha, se puder abra aqui:

http://meumundoxteumundo.blogspot.pt/p/artigos-interessantes.html

vai ver que se vai fazer mais "luz" ainda :)

Anette disse...

Helena, que testemunho fantástico. Obrigada pela partilha, vou espreitar o que me indicou.

Anette disse...

Ana b. Muita sorte para si e para a sua filhota. Já vi que estamos no mesmo barco.

Anette disse...

Sandra, eu acho que é mesmo isso, mas não quis culpá-lo de nada.

Anónimo disse...

Conheço um menino com asperger e é muito parecido com o pai :) o pai nunca foi diagnosticado mas o que agora são traços de caracter na infancia deviam ser outra coisa. Penso que, no caso d asperger, em adultos conseguem integrar se muito bem apesar das suas particularidades. E estamos todas a cascar nos maridos mas ao q parece o autismo é mais frequente no sexo masculino.

Patty disse...

Pois... o meu filho mais velho é Asperger, e quando foi diagnosticado o Dr. Lobo Antunes tirou logo 'a pinta' ao meu marido, e disse-lhe directamente que o filho tinha a quem sair!
É um tema muito pacifico cá em casa, mas sei que custa muito ao Francisco ter passado a Síndrome ao filho.
A mim não me stressa muito, gosto muito dos meus meninos exactamente como são... cada um é especial à sua maneira, quer os que são Aspeger quer os que não são!

Raquel disse...

Vocês são todas mães e mulheres lindas e cheias de força. Uma inspiração!
Um beijinho e muita força.

Anónimo disse...

Na verdade somos todos especiais. Temos as nossas obsessões, pancas, taradices... há é que não valorizar muito e seguir em frente. As pessoas passam por várias fases e essas pancadas vão-se atenuando e acabam por passar despercebidas. Bjs grandes.

A Mãe disse...

também quero dizer que por aqui é igual, sai ao pai. O pai percebeu que também tem qualquer coisa mas acho que isso dificulta o aceitar o diagnóstico e até lidar com isso porque afinal ele não tem nada de mal!! Também dificulta a aceitação por parte da minha sogra... como é que agora alguem lhe mete na cabeça que o neto que é igual ao filho é autista!!!