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quinta-feira, outubro 02, 2008

O que se segue é.......(música de suspense).............VERDADE

Praia de São Rafael, 15h.20

Ela apareceu no areal em biquíni enrolada numa toalha e com o cabelo ainda molhado do último mergulho na piscina do hotel. Mais atrás chega ele, que mal tem tempo de pousar o saco na areia, no sítio que ela escolheu, para voltar o pescoço e já a encontrar no mar, a tentar expulsar o calor da tarde. Rondam os 40 e poucos anos, muito poucos. Ele ajeita as toalhas, novas, e senta-se a ler um livro. Ainda nem uma página virada e ela aparece: “Quero ir para outra praia. Esta não tem peixes nem conchinhas como a outra.” “Ó, então? Ainda agora chegámos... vai nadar. Porque é que não vais nadar?”, sempre com uma ternura imensa, a fazer lembrar um pai a falar para a filha, quando eles são é namorados. Ela solta um pequeno choro e de joelhos na toalha pede-lhe para irem embora. Ele fica em silêncio, só a olhar para ela. “Ok. Eu vou nadar” e solta-se numa corrida em direcção às águas ainda a tempo para se virar e gritar cá para cima: “Vou nadar até morrer”. Acho que não sou só eu que fico em sobressalto. Os sons na praia propagam infinitamente. Fechamos os olhos na areia e ouvem-se as mais variadas frases, as mais ocas barbaridades, as mais sinceras verdades. Ele não esconde o ar de preocupação e não descola o olhar do mar. Lá, ela vai nadando em direcção à linha do horizonte. Já ultrapassou as bóias amarelas e ele começa a inquietar-se mais. Faz um esforço para prender os olhos no livro, mas não consegue. O meu coração salta. Já lá muito ao fundo, uma cabeça de alfinete pára, não avança mais, olha para o que deixou para trás e ele arrisca a levantar um dos braços em sinal de “volta”. Eu acho que ela nem o viu, mas começa a nadar no sentido inverso e ele regressa à leitura. Fora de perigo. Ela chega à areia. “Desculpa. Lamento imenso. Não consegui nadar até morrer. Quando cheguei lá ao fundo comecei a entrar em pânico e senti um medo enorme de não conseguir voltar. Desculpa”. Ele sorri e beija-a na boca.

17.00

Ela anda na areia sem levantar os pés, arrasta-os. “Olha os meus sapatos de areia. Ah, ah!” Ele levanta e baixa de imediato a cabeça e ela lamenta. “Tu não me achas graça”.


Desculpem o interregno, mas foi preciso repor a vida depois das férias.

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