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quarta-feira, março 05, 2008

Pelinhos (excerto do texto que escrevi na revista Time Out)

Nada de exageros quando se diz que a mulher está bem como Deus a pôs ao Mundo. Percebe-se o erotismo da máxima, mas a maioria das mulheres não gosta de pêlos. Não gosta é pouco. Na verdade, quase todas elas os odeiam, não os suportam e questionam-se várias vezes que mal fizeram elas para merecer tamanha dor de cabeça.
Quantas e quantas vezes fica uma saia por vestir porque as pernas têm pêlos; ou uma camisa de cava fica no armário porque as axilas estão uma desgraça? Muitas. Já para não falar das negas que são obrigadas a dar para uma animada ida à praia porque não houve tempo de ir à depilação ou porque os pêlos estão a atravessar aquela fase irritante de não conseguirem decidir-se se ainda são bebés ou já uns matulões. Ficam ali, ridiculamente a espreitar, imunes a qualquer cera quente que lhes mergulhe em cima.
A existência dos pêlos condiciona a vida das mulheres, essa é que é a verdade. É certo que existem as esteticistas. Tudo muito bem. Facilita, mas a tarefa nunca deixa de ser uma obrigatoriedade, uma dor de cabeça e um arrombo às carteiras.
O tempo disponível nunca é muito e ainda se tem de estar sujeito à disponibilidade do cabeleireiro. Aquela sensação da banda a ser arrastada com dezenas de pêlos agrafados a ela é coisa para muitos “ais”. E depois tem de se estar despida para ali numa marquesa, enquanto uma senhora a parecer simpática vai arrancando quase a pele e fazendo conversa de circunstância sobre uma nova receita de sopa. Escusado será dizer que da receita não se apanhou nada e que se sai do gabinete de estética com as zonas todas depiladinhas, mas tudo a latejar. Limpas as lágrimas de fazer o buço, chega a hora de pagar e elas começam a querer emergir de novo. A brincadeira fica mais ou menos por 40 euros e aquela sensação do “já está” vai-se embora no instante em que marcamos a próxima “tortura” para dali a duas semanas.

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