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segunda-feira, julho 11, 2011

O meu fado

Eu canto o fado e gosto de cantar o fado.
Tudo começou na altura da faculdade - um dia conto-vos a história que agora não me apetece. Mas nessa altura de estudante inconsciente (já lá vão mais de dez anos) cantava dia sim, dia não, o que fazia com que não ficasse minimamente nervosa quando encarava o querido públicozinho. Públicozinho que agora me põe a tremer que nem varas verdes, o que afecta a minha actuação. Como canto muito espaçadamente, fico numa ansiedade tal, que tenho a certeza que mesmo no escuro, as pessoas conseguem ver-me as pernas a tremer. A voz não se solta, fico com medo de me esquecer das letras, de desafinar, de não entrar na altura certa, daquele já não ser o tom indicado para mim... Enfim, entro ali numa espiral de incertezas que as últimas vezes que fui cantar foram mesmo sofridas. Do género, o tipo antes de mim ainda a actuar e eu em pânico, já sem ouvir nada, a pensar se seria muito aborrecido dizer ao apresentador que afinal já não queria, que me tinha dado uma dor de barriga ou assim.
Mas como gosto mesmo muito de cantar, pensei que o melhor seria voltar a cantar com regularidade, para ganhar prática e não ficar tão nervosa. Há umas semanas dei com uma noite de fados lá para a minha zona e mal adormeci o Rodrigo arranquei para o restaurante. Como andava por lá sozinha não demorou muito tempo até os outros fadistas perceberem que eu também andava nas lides e na terceira parte chamaram-me. Ai Jesus, os meus nervos eram tais que só tinha vontade de me chicotear: “Epá, mas porque é que eu me meto nestas merdas? Então não estava mais sossegada em casa?”. Bom, lá comecei, pernas a tremer, a voz a sair a custo, fim do primeiro fado e os nervos como no início. Garganta seca, vai um gole de água enquanto ainda batem palmas, e arranco para o segundo. Na segunda estrofe, fico sem voz. Literalmente sem voz. A garganta secou tanto com os nervos, que fiquei ali sem conseguir entoar uma única nota, a tossir, a engasgar-me, os guitarras a prosseguirem, eu a ouvir atrás de mim “não desistas, continua, qualquer um se engana”. Pois, eu não conseguia mesmo, eu não me tinha enganado, tinha ficado afónica. Pedi desculpa aos presentes e fui-me embora, a morrer de vergonha e a jurar a mim mesma que nunca mais voltaria a cantar. Bela ideia a que eu tive, infiltrar-me naquela noite de fados da região saloia para poder ir treinando o meu repertório, e acabei por espalhar-me ao comprido, ganhando agora ainda mais receio da próxima vez que for cantar... se algum dia for.

Ah, entretanto, e porque gosto mesmo, mesmo de cantarolar, já ando é cá com ideias de falar com a Câmara de Mafra para ver se apoia a criação de um grupo de fado local. Uma coisa onde a malta possa cantar, ensaiar, tirar tons, experimentar novas canções, para quando for a sério conseguir estar mais segura.

3 comentários:

Genitrix disse...

Se paras agora depois desse pequeno percalço, nunca mais cantas mesmo.
Isso é como tudo, se ao teres um acidente/percalço/ entrave, paras, nunca mais encarrilas.
Vai jána proxima e vais conseguir.

Noutros tempos, umas cervejas ou uns copos de vinho tiravam o nervoso, e ainda hoje tiram se klhes deres hipotese loll

tota disse...

Força nisso! Se precisarem de alguma ajuda mais na área da produção/divulgação avisa! Não estou em Mafra, mas estou perto.

Miss Strawberry disse...

Boa! Iniciativas dessas são sempre de louvar. Na Ericeira há um barzinho catita que tem fado ao vivo, pelo menos, uma vez por semana. O ambiente é giríssimo!A maioria dos fadistas são amadores mas cantam bem que se farta. Avisa da próxima vez que fores cantar por essas bandas que eu vou lá dar apoio moral!

Bjs