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sexta-feira, outubro 09, 2015

Coisas que tal, vamos lá embora

Nunca podemos esquecer que a Bíblia é uma obra de ficção.
E o Novo Testamento é uma interpretaçao de Jesus Cristo e seus heteronimos.

quinta-feira, dezembro 04, 2014

Ora aqui vai um poema do Manuel Bandeira

BELO BELO

Belo Belo minha bela
Tenho tudo o que não quero
Não tenho nada que quero
Não quero óculos nem tosse
Nem obrigações de voto
Quero quero
Quero a solidão dos píncaros
A água da fonte escondida
A rosa que floresceu
Sobre a escarpa inacessível
A luz da primeira estrela
Piscando no lusco-fusco
Quero quero
Quero dar a volta ao mundo
Só num navio de vela
Quero rever Pernambuco
Quero ver Bagdad e Cusco
Quero quero
Quero o moreno de Estela
Quero a brancura de Elisa
Quero a saliva de Bela
Quero as sardas de Adalgisa
Quero quero tanta coisa
Belo belo
Mas basta de lero-lero
Vida noves fora zero.


Petrópolis, Fevereiro de 1947

In Belo belo

terça-feira, agosto 19, 2014

Pequeno retrocesso

Desculpem a ausência, mas os meus dias não foram fáceis. Na fase final da escola, o Rodrigo, que já fez os cinco anos, entrou outra vez numa espiral de agressividade descontrolada. Birras infernais sem motivo aparente a levar tudo atrás levaram-me ao desespero. Acordava zangado com o mundo e assim permanecia durante todo o dia sem conseguirmos controlá-lo. Nesse período gritou, bateu-nos, partiu coisas em casa, esperneou, desafiou-nos, magoou-se a ele mesmo... Marcada consulta de urgência com as médicas que o acompanham optámos por regressar à risperidona. Ainda andámos alguns dias a ajustar a medicação mas agora está tudo bem. O Rodrigo está um menino novo, feliz, com as suas birras, mas dentro da chamada normalidade. 

Entretanto, mais boas notícias. A última avaliação afasta por completo qualquer perturbação no espectro do autismo, indica, isso sim, uma perturbação comportamental que está agora a ser trabalhada. É um zero à esquerda na motricidade mas também vamos investir este ano nessa área e já está inscrito no karaté. 

Beijinhos muitos. 

sábado, julho 26, 2014

Machismo na biblioteca

A Nora Roberts desatou a escrever policiais como cogumelos, sob pseudónimo de J. D. Robb mas toda a gente sabe que é ela. Hoje um leitor dizia-me que gosta muito desta saga, cujos títulos são sempre qualquer-coisa-mortal, porque “é para homens” enquanto os outros livros escritos anteriormente “são para mulheres”. Como não convém responder, já se sabe onde estas conversas terminam, fiquei a mastigar cá na minha... Até que me lembrei dos espertíssimos editores, congeminando como alargar o público da Nora Roberts e seus próprios bolsos: arranja-se um pseudónimo de brincadeirinha como manobra de mercado, muda-se o género para policial numa saga repetitiva que vende que nem pãezinhos quentes, e fazem-se umas capas “à macho”. Ficam a repousar os antigos livros com capas de borboletas e bicicletas num fundo luminoso, natural e revigorante. São os editores que fazem essa separação, porque imaginam que é isso que desejam os leitores. Quem tem razão?

terça-feira, junho 17, 2014

Os sete

Há a crise dos sete anos num casamento (vamos lá ver se me safo a esta, que é este ano) e há depois a crise dos sete na dieta. Pela terceira vez, chego aos sete quilos a menos e desisto. Irra, que aos poucos já vou ganhando o peso antigo. Sou uma fraquinha. 

sexta-feira, junho 06, 2014

O Rodrigo a caminho dos cinco

Parece mentira. Quem me acompanha neste blogue desde a grande odisseia que foi a minha gravidez, deverá como eu pensar que "irra, já passaram cinco anos desde que o Rodrigo nasceu!".

Tem sido um caminho feliz mas com momentos muito difíceis e angustiantes pelo meio. Para quem só agora me lê, tive uma gravidez de gémeos muito complicada, que terminou às 27 semanas, com os dois bebés a nascerem, mas só com um a sobreviver. Após mais de dois meses e meio internado, o Rodrigo veio finalmente para casa, mas não foi preciso muito mais tempo para percebermos que era um menino diferente. De um dia para o outro deixou de andar, falar e iniciou uma série de estereotipias e obsessões.

Diagnosticado precocemente com Perturbação no Espectro do Autismo, iniciámos uma dura batalha para reverter essa situação. Entre muitos apoios, muita estimulação, muitas salas de hospital, muitos gritos, choros e noites em branco, começámos aos 3 anos a ver a luz ao fundo do túnel.

Hoje, a dias de completar 5 anos, o Rodrigo é uma criança muito parecida com as outras da sua idade. De momento, trabalhamos apenas a sua independência, agressividade e relação com os outros. Finalmente, sinto que respiro de alívio, apesar de ainda sentir nele algumas dificuldades. Os degraus que subiu, os patamares que alcançou, fazem-me acreditar que conseguirá chegar ainda muito mais longe.

Aos médicos que fizeram com que ele sobrevivesse, às técnicas que insistiram com ele com as mesmas brincadeiras, às pediatras que nos têm mostrado o caminho certo, às educadoras que com ele têm trabalhado, às psicólogas, terapeutas, aos meus pais, aos meus sogros, à restante família e amigos incansáveis que nunca deixaram de acreditar e ajudar como podiam, o meu agradecimento e do Zé. Sem vocês, este milagre não tinha acontecido.

E para ti meu filho, parabéns. Tu és a verdadeira alavanca para nos termos empenhado tanto.

E se por um lado fico feliz por estares crescido e começares a perceber o que se passa em teu redor, por outro parte-me o coração saber que é esse teu desenvolvimento tão desejado que permite que te vás igualmente apercebendo que ainda tens alguma coisa a separar-te dos teus pares.

À noite, na cama, dizes-me que estás triste porque não brincam contigo na escola. Pois é, não brincam porque nas escondidas não te escondes, na apanhada não foges, no jogo do silêncio não te calas e no stop não congelas. Mas não tardará muito em entenderes como se fazem essas brincadeiras. É uma questão de dias, acredita Rodrigo. Hoje já estiveste fantástico a brincar ao quarto escuro comigo. Em duas das vezes, mal te ouvi respirar. Boa!

Um obrigada também à positiva força que foi sendo deixada nos comentários deste espaço. Não imaginam as vezes que vos li e reli em busca de motivação para continuar este caminho... caminhando.