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sexta-feira, setembro 30, 2005

Os vampiros

No céu cinzento sob o astro mudo
Batendo as asas pela noite calada
Vêm em bandos com pés veludo
Chupar o sangue fresco da manada

Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhes franqueia as portas à chegada
Eles comem tudo eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada

A toda a parte chegam os vampiros
Poisam nos prédios poisam nas calçadas
Trazem no ventre despojos antigos
Mas nada os prende às vidas acabadas

São os mordomos do universo todo
Senhores à força mandadores sem lei
Enchem as tulhas bebem vinho novo
Dançam a ronda no pinhal do rei

Eles comem tudo eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada

No chão do medo tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos na noite abafada
Jazem nos fossos vítimas dum credo
E não se esgota o sangue da manada

Zeca Afonso

quinta-feira, setembro 29, 2005

Eclipse

Na próxima segunda-feira de manhã vamos assistir ao primeiro eclipse solar do século. Em ocasiões de Lua Nova, e se os centros do Sol, da Terra e da Lua estiverem alinhados, existem eclipses cujas características dependem da distância entre a Terra e a Lua. Neste caso é um eclipse anular, de anel de Sol à volta da Lua; e apenas nas regiões do Norte do País se vê na totalidade. Começa às 08:35 e termina às 11:20, mas a parte mais interessante é por volta das 09:55.

quarta-feira, setembro 28, 2005

E então?!!

Pelo que se ouve dizer por aí, os arguidos Isaltino Morais, Fátima Felgueiras, Avelino Ferreira Torres e Valentim Loureiro, são mesmo capazes de merecer a confiança da maioria dos eleitores e ganharem as respectivas câmaras.

Eu ainda não acredito que isso possa de facto acontecer, mas se assim for eu juro que mando um balázio nos cornos de quem vier com aquela conversa de que os políticos são uns corruptos e que a Justiça é cega e que não pune os que merecem, blá, blá, blá... Também, se eu matar alguém o que é que me pode acontecer?! Ou passo umas belas férias no Brasil, ou ganho aí uma autarquia! E então?!

A verdade é que no meio desta mega-hipocrisia-político-judicial ainda há uma coisa que nos anima: afinal, o próximo Presidente da República sempre pode ser o Soares, o Cavaco, o Alegre e,... quem sabe, até mesmo o Jerónimo.

Arghhhh. Ai meu Deus!!

segunda-feira, setembro 26, 2005

1,71 metros de altura e olhos verdes!!!!

Tenho um metro e setenta e um de altura, cabelos longos bem negros e uns olhos verdes enormes e bem sublinhados pelas sobrancelhas. Sessenta centímetros de cintura, cento e um de peito e oitenta e seis de anca. Tenho um carro maravilhoso que não vos sei dizer a marca e agora vou ter de ir embora, senão perco o avião para as ilhas gregas.

Observação: É isto que mais me fascina nas novas tecnologias. Uma boa peta (excepto os 101 de peito) à distância de um teclado.

sábado, setembro 24, 2005

Estrangeiradas

As tatuagens hoje em dia são uma cena muito pró estranho. Cada vez mais se deixam de ver os belos desenhos que se faziam de verdadeiras imagens e hoje em dia está na moda ter uma tatu com letras estrangeiras. Por exemplo, os jogadores da bola têm o nome dos filhos inscritos em chinês ou hebraico ou arábico (aquela cena....). Quantas vezes não vão a andar na rua e vêem pessoal com letras chinesas no braço ou no pescoço.
Se se quiserem rir um pouco experimentem perguntar às pessoas o que é que aquela letra quer dizer. Vários dizem "paz" ou "amor" ou o signo. As letras é que nem todas são iguais.
Há bacanos que pensam que têm "paz" e na verdade têm "pato com laranja". E os nomes dos filhotes???? Teêm MESMO A CERTEZA que é um nome de pessoa???? (Simão, esta é para ti!) Quem vos disse? "Ah foi o bacano que me fez a tatu!"
ABRAM A PESTANA!!!!

Made by Rios

sexta-feira, setembro 23, 2005

No dia em que a minha tia fez 57 anos virei-me para ela enquanto nos despedíamos dos últimos goles de champanhe e disse-lhe: "Tenho um blog".

Ficou brutalmente arregalada a olhar para mim como se lhe tivesse dito que era lésbica ou que era suplente na 1ª Companhia e sussurou-me: "Onde é que apanhaste isso?! Ó filha vais é já amanhã àquele médico do teu tio".

A diferença de gerações às vezes chega a ser gritante. Estou agora a lembrar-me dos sobrinhos da Teresinha que foram dar de caras com discos em vinil arumados no sótão e lhe perguntaram: "Ó tia, o que é que são estes cd's grandes?"!!

Hoje, chamava-me a minha mãe para o jantar e eu respondia-lhe que primeiro tinha de ir pôr um "poust" (post). (Há quem diga "póst", o que tem uma certa graça). "Ai esses teus intestinos, filha. Come cereais, come cereais!!".

O meu pai, indignado, lançava-se da sala para lhe explicar: "Tu tens com cada uma, a miúda não te está a dizer que vai à casa-de-banho"... E avançando sobre mim enquanto abanava a cabeça, pousou a mão dele sobre o meu cocoruto a perguntar-me: "Eu tenho aqui. Queres pôr um amarelo ou um cor-de-rosa?". Na mão, dois blocos de post-it's, que à boa maneira portuguesa se pronunciam "póxtites".

Escolhi os amarelos e já nem fui pôr post algum. Tou a fazê-lo agora, no silêncio da madrugada. E se algum deles me aparecer no quarto a perguntar o que estou a fazer, minto e digo que estava a fumar um charrito.

Ufa

Peço desculpa pela interrupção. A minha vida blogosférica segue dentro de momentos...

quinta-feira, setembro 22, 2005

Cheiretes

O chulé, o cheiro a queijo e outras coisas que tal que se dizem para explicar o mau odor dos pés, é um problema que afecta não só o Necas mas também muito boa gente por esse mundo fora. Está bem que ninguém cheira bem dos pés no final de uma longa caminhada num dia quente de Verão. Mas existem hábitos de higiene a ter em conta, e são isso mesmo: hábitos (diários, de preferência). Mas o que me traz a este post não é bem o asseio, e sim o facto de existirem verdadeiras investigações científicas que tentam caracterizar os componentes responsáveis pelo dito cheiro fétido. Ora eu ponho-me a imaginar aqueles gajos do alto da sua sabedoria, de bata branquinha e engomada e luvas assépticas, a chafurdarem num mundo de suadas peúgas e sapatos podres. Espero bem que substituam os habituais óculos grandes por uns tapa-narizes do mesmo material. Os tais cientistas são japoneses e americanos (não rir) e elegeram as substâncias mais nauseabundas que se podem cheirar: nas naturais ganha o metilcarptano que é o responsável pela halitose; nas sintéticas a U. S. Government Standard Bathroom Malodor (não rir) cuja composição é secreta. Epá, e os ovos podres? o aroma de merda de alguns WC públicos? de mijo em algumas ruelas de Lisboa? e as ratazanas mortas, essas incompreendidas? o cheiro das bombas de gasolina (esta é minha)?; está mal, deviam ter vindo falar connosco primeiro para a elucidação total de componentes responsáveis por cheiros nojentos. Connosco: as autoras e vós ouvintes, digam de vossa justiça. E em jeito de conclusão, para os Necas que pensam que os seus pés cheiram mal, é mesmo verdade amigos, exalam de facto esse mau odor com o qual perfumam a atmosfera circundante.

sábado, setembro 17, 2005

O Fanecas ou Uma construção de um personagem (tão boa como outra qualquer)

O Fanecas, ou Necas para os amigos, era um gajo porreiro. Tinha lá o seu feitio, convenhamos... muito próprio, mas era o que se pode chamar um grande personagem.
Começava muitas das suas frases por: "Épa, isto pode parecer-te um bocado estranho..." ou "Já sei o que é que vais dizer...", ruminando qualquer coisa do arco da velha pelo meio, e terminando algumas delas com "Olha, são pérolas p’ra porcos, pá" ou "É dar bons vinhos a maus fígados, sabem lá o que é essa merda...".
O estado civil do Fanecas era algo que permanecia um mistério. Casado não era, não existia registo de nenhum acontecimento do género, mas não perdia uma despedida de solteiro. Também não constava que tivesse namorada oficial; claro que os amigos perceberam logo que a Ana Maria era alguém mais especial mas, como não falava nisso, também não lhe perguntavam. Trazia a tiracolo mulheres dos géneros mais diversificados, que iam, e às vezes voltavam, com uma frequência espantosa. Era um predador romântico: chegava a enviar flores e bombons às miúdas giras que apareciam na televisão, na internet, nos bares, esperando uma recompensa mas fingindo não a esperar. Conservava com as mulheres a sua educação da infância: o cuidado no evitar o vernáculo perto da mãe e as caralhadas e risadas que soltava com o pai.
Na política, assumia-se como um gajo do contra. Até nem se importava de levar outra vez com o Mário Soares e o Cavaco Silva, só para poder dizer mal à vontade devidamente fundamentado no passado. Mas não ia votar. Dizia com sarcasmo dos políticos: "É só injustiças de merda, eu não acredito em mentiras pá. ‘Tou-me a cagar p’ra eles todos, são todos uns corruptos. Puta que os pariu mais a recessão..."
O Necas gostava de folhear A BOLA logo pela manhã ainda cheia de tinta. E gostava de ver a bola com os amigos no café, até porque era forreta e nunca ia ao estádio. "Aqui é mais emocionante, um gajo lá não vê nada.", nunca se sabendo se a emoção lhe surgia com as fresquinhas que despejava ou com a visão mais toldada que disparava para o écran. Nas faltas dos jogadores da sua equipa justificava: "Ele ‘tava a ir à bola, a fazer jogo... e o outro gajo atirou-se pr’ó chão, pá! Qual é o árbitro que não vê esta merda?" O Necas levava as mãos à cabeça quando era golo da outra equipa ao passo que sorria tranquila e desdenhosamente quando a sua marcava.
O Necas era um ex-fumador desejoso de reincidir. Andava numa espécie de liberdade condicional pois havia largado há pouco tempo, e o que ele sofria!... Às vezes abanava a mão incomodado, a afastar o fumo do cigarro dos outros. Mas à noite, já com os copos, apetecia-lhe fumar este mundo e o outro. Ficava para ali a salivar qual canino de Pavlov mas como "um gajo é um animal racional" lá controlava os ímpetos, não deixando de fixar exaustivamente o objecto de desejo.
O Necas era funcionário público. Não gostava de falar do trabalho, a não ser para reclamar do facto de ter de trabalhar. Tinha muitas regalias mas fingia não as ter. Na verdade poder-se-ia dizer que o Necas trabalhava apenas quatro dias úteis, dado que às segundas de manhã e sextas à tarde não fazia a ponta de um corno. Andava a estrebuchar em frequência FDS Mega Hertz – FDS de fim de semana, ou em interpretação livre: "Foda-se, já aqui ‘tou outra vez?" e "Foda-se, o que’é qu’eu ainda aqui ‘tou a fazer?". No regresso das férias ao trabalho emitia em frequência pirata intraduzível.
O Necas tinha as suas particularidades, "Deixem-me cá com as minhas merdas, pá!". Por exemplo, gostava de sumo de mamão e não admitia piadas sobre o assunto. E depois existiam outros temas intocáveis como dizerem-lhe que era sovina, que guardava trocos por vocação, perguntarem-lhe por que é que lhe chamavam Fanecas e qual o seu verdadeiro nome. Mas o que realmente deixava o Necas chateado era dizerem-lhe que cheirava mal dos pés, "Ouve lá, mas tu queres levar uma pêra?". No entanto à noite largava os ténis a espantar o odor na varanda... mas isso só eu é que sei porque sou uma narradora omnisciente e inventei o personagem do Fanecas.

sexta-feira, setembro 16, 2005

Alô, concorrência, alô!

Após rápida leitura na oblíqua, pude constatar que estamos a ser completamente liquidadas pela concorrência. A concorrência é eficaz, tem boas ideias. A concorrência não dorme, é um ser que respira, que corre adiante.
Descobri que este é o meu 100º post (lindo número, não?). Alguns foram alinhavados em cima do joelho, escritos de enfiada; outros mais pensados, mais filhos de uma gravidez desejada.
Alguém da concorrência quer ajudar a soltar a pressão do barril das ideias e servir-nos um esboço de post fresquinho e borbulhante, tal como o pede esta tarde de sexta-feira? Um grande bem hajam!

quinta-feira, setembro 15, 2005

Sentimental que tal

Ai, que saudades eu tenho de Agosto.
Mesmo quando o Agosto é mais chuvoso ou menos estrelado, eu tenho sempre saudades de Agosto.
Eu tenho saudades desse Agosto das tardes cheias de mar, dos gestos lentos sobre a areia.
Tenho principalmente saudades das tardes de Agosto, dos instantes que se prolongam sem propósito, do mar ser mais longe que a linha do horizonte.

Coisas que tal

« (...) É daquelas coisas que, não servindo para nada, é bom que existam por princípio. Um pouco como a genitália do Papa. Seria no mínimo perturbador imaginar um Papa que não tivesse... bom... que não tivesse o seu Sumo Pontífice mesmo que não o use. (...) »
Renato Carreira
o Inimigo Público, 9 Setembro 2005

Sem título

Acordava nessas manhãs de Inverno sentindo-se um pouco Lobo das Estepes. Nas horas do despertar julgava-se muito mais Lobo, soltando breves grunhidos. Mas depois durante o dia achava-se deprimido, oprimido até, quase soterrado pela ideia humana que de si fazia. À noite esse lado lupino regressava mais evidente, quase a arregaçar os caninos, e piorando com a madrugada. Como que arriscaria esboçar umas quantas teorias sobre o binómio homem-lobo, não fosse o facto de ainda estar a meio do livro. Nessas manhãs estugava o passo a caminho da estação de comboios do subúrbio e, na viagem, o livro adormecia na pasta enquanto a barriga repousava no cinto. À noite se tivesse sorte, encontraria melhor companhia para a almofada que o Hermann Hesse. Se tivesse sorte... e desde que não dissesse à jovem rapariga diante de si: " Pois, sou eu. Sou uma pessoa que tenho metade de homem e metade de Lobo, ou que julga ser assim."

sexta-feira, setembro 02, 2005

Vou ficar para madrinha

Por este andar fico mas é para madrinha. Estou prestes a ter um quarto afilhado.
O primeiro, o Rafa, tem doze anos, e é lindo de olhos pestanudos e bom feitio. Adora futebol e o Benfica. Está todo orgulhoso por eu ter aparecido na televisão.
Da Susana fui madrinha de casamento, em pleno Mosteiro dos Jerónimos. As outras três madrinhas ficaram na plateia enquanto eu chorava no altar. A Susana é mãe há três meses do Guilherme que sorri exactamente como ela.
Depois há a Catarina, a minha sobrinha adorada. A Catarina vai fazer dois anos e é a coisa mais fofa do mundo. Ainda não fala, mas percebe tudo. Adora a madrinha.
E agora o casamento do Billy, o meu querido amigo.
Pronto, estou garantida com um montão de afilhados. Vou ser uma Godmother, Cap. IV. Estou lixada na Páscoa.